quarta-feira, 30 de abril de 2014

ESBOÇO COMPARATIVO ENTRE O CONCEITO DE TEMPO CATÓLICO E O CONCEITO DE TEMPORALIDADES AFRICANAS

ESBOÇO COMPARATIVO ENTRE O CONCEITO DE TEMPO CATÓLICO E O CONCEITO DE TEMPORALIDADES AFRICANAS Este esboço surge no calor do momento como indica o multiplicador semântico e categoria filosófica e vocábulo em língua portuguesa: tempo. E é no compasso de uma sonata roqueira que escrevo essas mal traçadas linhas no intuito de flagrar a efemeridade da Abertura da Conferência dos Bispos do Brasil. Inicialmente devo informar ao leitor que não consegui as referências bibliográficas do catecismo SOU CATÓLICO escrito pela CNBB e que minha sobrinha de 13 anos recebeu de presente num amigo secreto do grupo de crisma dela. Este documento eu li. Aliás, devorei. Fiz anotações com lápis e para meu aborrecimento não estou encontrando no momento. Fizeram uma arrumação não autorizada por mim no meu quarto e reviraram todos os livros e os jogaram como trecos num canto úmido. Assim, eu perderia um tempo enorme procurando este documento nas centenas de livros que tenho. Desse modo, anuncio ao leitor que os conceitos de tempo por mim evocados nas duas sociabilidades religiosas o serão por absoluta memória fotográfica. Vamos a e eles. O Dicionário de Filosofia de Nicola Abbagnano da Martins Fontes editora registra o verbete tempo. O que revela que este calhamaçudo dicionário não desprezou a preocupação da filosofia ocidental com a categoria tempo. Uma categoria complexa e de vários domínios da ciência. A saber: história, física, matemática, gramática, geologia, astronomia. E como tal não poderia deixar de ficar de fora o tempo teológico. Ou para não sermos devocionais, o tempo na ciência da religião. O tempo é uma preocupação do ser humano. Aliás, parece ser o único ser vivo que se preocupa com o tempo. Mas isso exigiria um conhecimento de biologia e zoologia que foge a minha modesta bagagem e ao meu modesto lattes. O homem tem consciência do tempo e do seu fim. E do aparente escorrer do tempo. Como não li Henri Bergson com profundidade não ensaio falar muito sobre duração. O tempo preocupou a escolástica medieval e curiosos são os circunlóquios de Agostinho de Hipona sobre o tempo. Merece ser consultado. Mas como é o tempo católico? A questão é complexa porque não existe católico no singular, mas católicos no plural. Assim Teologia da Libertação e movimento revivalista Renovação Carismática Católica são experiências diversas e plurais da mesma Igreja vivenciar o tempo. Só para ficar nesses dois exemplos mais extremistas. O que pude aprender sobre o tempo com o catecismo da minha sobrinha de 13 anos? Várias coisas. Há um calendário católico que no Brasil devido as relações estranhas entre estado e clero se confunde com o calendário secular de feriados. Assim, existe ritos temporais bem marcados no catolicismo. O batismo do nenê é um deles. Enquanto nas igrejas evangélicas o batismo é feito na idade adulta. Muda a sociabilidade religiosa, mudam-se os ritos temporais. A confirmação com a crisma é outro momento. Minha sobrinha passou pela 1ª comunhão. Enquanto eu na adolescência obrigado a frequentar a igreja católica respondi tudo errado na sabatina da irmã antipática na minha confirmação para a 1ª comunhão e por isso fui reprovado. Irritado, pois não me ensinaram na época a fichar versículos de Bíblia Sagrada, eu resolvi mandar a Igreja Católlica para puta que pariu! E rompi com a sociabilidade católica aos 12 anos. Justamente na época das Diretas Já! Que se refletiu no meu bairro. Eu que frequentava uma escola burguesa do centro da cidade na época: O Colégio Positivo. Foi nessa época que pus meus dedos num teclado de computador pela primeira vez na vida. Não graças a multinacional do Vaticano que não oferecia computadores na época para a paróquia do meu bairro. Mas sim graças ao colégio burguês que tinha uns computadores TDK horríveis. Foi nessa época que minha mente ficou cibernética mesmo sem ter lido Abraham Molles, que eu com 12 anos de idade com certeza não entenderia nada mesmo, mas ficaria com a pulga atrás da orelha caso tivesse tido acesso e resolvesse ler até o fim. Só pensava em games. Em criar softwares para videogames e as pessoas achavam meu papo chato. Até pelo fato de que eu ainda não tinha topado com o vocábulo anglo-saxônico software. E em politicamente eu tinha ideias direitistas mal-digeridas. Como uma vez ficou boquiaberto o meu professor de educação artística Pingo de Fortaleza. Assim, para encerrar essa parte autobiográfica eu digo que nunca passei pelo rito de pôr a hóstia na língua, para ver se sentiria o corpo de Cristo. E quando o fiz uma vez dentro de um hospital psiquiátrico não sabia que era um ato sacrílego. Fiz o meu sacrilégio em 1993. E minha vida continuou como se nada tivesse acontecido, afinal apenas ingeri farinha de trigo e um pouco de água. Mas voltando a falar do calendário católico outro rito temporal é o matrimônio. Onde um casal heterossexual jura perante o altar de frente para o público a partir do Concílio Vaticano II que serão fiéis até que o Deus pai de Moisés os separe. Outro rito temporal do calendário católico é a extrema-unção. Onde o padre confirma o sacramento legitimando o moribundo para a vida eterna. Assim falei dos quatro períodos da vida de um ser humano que a Igreja Católica está presente: o nascimento para a comunidade de fiéis na infância quando bebê inconsciente; a 1ª comunhão na adolescência quando o fiel penetrará no suposto doce mistério de ingerir Jesus Cristo. Sacramento esse ausente nas Igrejas Evangélicas ou Reformadas. O casamento ou sacramento do matrimônio e o último sacramento a extrema-unção. E como seria isso comparado às temporalidades africanas? Foi conveniente, da minha parte, referenciar como temporalidades africanas e não como conceito de tempo africano. Como pensava inicialmente ao pesquisar o assunto... Existem temporalidades no continente africanas diversas. Assim, o calendário dos povos africanos católicos nem sempre coincidem com o calendário dos africanos islâmicos. E se eu for para o universo que realmente me interessa; a saber: as religiões tradicionais africanas. Isto daqui não seria um esboço e sim uma tese de doutorado. O batismo na temporalidade africana ioruba se dá logo na infância e lá o interesse nele é para saber o odu do indivíduo. E também para saber se a criança é um abiku. Assim, o pai e a mãe pegarão o bebê e irão no babalaô da aldeia para ele jogar os búzios e confirmar as duas coisas: odu e abiku ou não. Deste modo, a diferença já começa daí. Enquanto no catolicismo o batismo é um sacramento para confirmar aquela criança no Reino de Deus. Na cultura ioruba o objetivo é outro. É apresentar a criança aos seus ancestrais. Já que o conceito de odu é uma espiada no passado daquela criança. Enquanto no catolicismo existe todo uma expectativa pelo futuro, por ser uma religião de salvação. Conceito este (salvação) inexistente na cultura ioruba. Outro rito temporal importante na cultura ioruba é a iniciação, quando o indivíduo confirmará seu olori. Tornando-se esposa dele. Ou seja, yaô. Ou quando confirmará sua filiação ao orixá do vilarejo. Nem todos querem se iniciar, pois ser esposa pressupõe muitas responsabilidades. Como fazer oferendas para o olori. Outro rito temporal importante é o axexê quando a pessoa morre. Para que a alma do defunto descanse e não venha se encostar nos membros da família que ficou. Gente. Isso foi um esboço. Quando tiver tempo eu aprofundo e edito o texto. Obrigado. Professor, palestrante, consultor e africanista.

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